– o caçador

Hora: 17:05 – Ouvindo: Rihanna – California King Bed

A caça começou. Eu estava um pouco – ou muito – assustado. Senti que havia algo de estranho no ar, senti que passos e olhares me rondavam, senti o perigo eminente e o medo e tensão percorrerem meus músculos. Eu previ que algo aconteceria e que eu não teria saída. No meio das árvores eu devo ter andado sem o perceber, inocentemente continuei a andar naquele bosque de árvores invisíveis.

Me aproximei da lagoa e me vi refletido em suas águas. Minha imagem pálida e assustada, arisca. Fitei meus olhos e procurei meu ser no fundo de minha mente, procurei minha voz e não a encontrei. A relva atrás de mim foi pisada e galhos estalaram. No reflexo límpido da água, eu vi o caçador. Seus olhos eram furiosos, pareciam espalhar brasas. Ele permaneceu atrás de alguns arbustos como que ainda se preparando para o momento certo de atacar. Eu me aproximei do espelho d’água e o caçador saiu de seu esconderijo. Ele caminhou em minha direção lentamente até bem próximo de mim, e o medo me congelou, travou meus braços e pernas. O caçador me encarou através do reflexo na água até que eu me virei corajosamente e enfrentei o sangue de seus olhos.

Num momento de desejo de saciar sua fome ou sede, me agarrou pelo braço com força suficiente para me apavorar. Eu pensei que ali chegaria meu fim, que ali eu viraria uma presa morta; um animal caçado e abatido. Seus olhos pareciam querer dizer e mostrar que eu era um grande troféu que ficaria exposto em sua sala, uma lembrança de uma bela caçada. O caçador sussurrou uma ou duas palavras numa fúria incompreensível, palavras que meus ouvidos fracos não captaram, e minha mente se converteu em caos. Ele olhou as ribanceiras do rio, o bosque ao redor e analisou o céu. Procurou sua arma e se voltando com uma expressão de ódio, fechou o cerco ao meu redor impedindo que eu fugisse pelos lados e finalmente revelou sua arma aos meus olhos. Era um machado grande e potente, pronto a me abater. Ele mostrou-me o machado como se dissesse “é através disso que você morrerá”. Numa expressão de conformidade, aceitando a morte que me chegara, analisei brevemente o poderoso machado e toquei seu cabo de aço lustroso e frio.

Meu coração disparou uma última vez e dei dois passos para trás e o caçador me procurou mais uma vez falando um idioma que eu não conhecia. Não sei se foi o meu medo ou uma piedade repentina que o acometeu, mas o caçador recuou depois. Olhou-me com estranheza e logo após guardou sua arma e se afastou mais. Ele me olhava agora como se eu fosse o caçador, não sei. O caçador olhou mais uma vez para a água e as pedras do rio, olhou para o bosque também e se afastou partindo sem explicação. Eu fiquei atordoado por ter sido poupado e não entendi o que o fez ir embora, e assim relaxei de novo.

Fugi do local com medo dele mudar de idéia e se voltar barbaramente contra mim de novo. Porém ao correr como o vento, pular sobre as rochas e seixos e me desviar dos galhos caídos e secos já longe dali, eu o vi mais uma vez. Escondido entre as árvores, porém sem vergonha de ser notado, espreitando uma próxima presa menos sortuda. Seus olhos emanavam a mesma raiva, o mesmo rancor. Ele bufava e tremia, e eu simplesmente corri para longe dali.

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